Rodrigo Rollemberg, o desafio de um político honesto
Por : Gabriel Garcia
Arrumação da casa, tolerância zero com a corrupção e investimentos para melhorar a vida da população marcaram o primeiro mandato do governador Rodrigo Rollemberg. Candidato à reeleição, o socialista reconhece que áreas essenciais, como saúde e segurança, merecem ainda mais atenção, mas ele destaca os importantes avanços como a construção do novo Hospital da Criança e o menor índice de homicídio dos últimos 30 anos. Ao fazer um balanço dos quase quatro anos de trabalho, considera-se feliz por ter enfrentado com ânimo e coragem os desafios de administrar a capital do Brasil. Otimista, declara que vai fazer muito mais por Brasília daqui por diante, após equilibrar as contas públicas. Para reduzir a desigualdade social no Distrito Federal, Rollemberg dobrará o valor do programa DF Sem Miséria, em 2019, e construirá 50 mil novas moradias.
Brasília carrega um estigma pelos escândalos de corrupção nos âmbitos federal e local. Como será o combate à corrupção na sua próxima gestão?
A população sabe o que está em jogo nessa eleição: a volta ao passado de desmandos e roubalheira ou um novo tempo para a cidade. No nosso governo, enquanto tratávamos de arrumar a casa, combatemos a corrupção, demos transparência aos processos e facilitamos o acesso da população ao próprio governo. Criamos a Delegacia de Combate à Corrupção, aos Crimes contra a Administração Pública e à Sonegação Fiscal. Priorizamos o controle social com o lançamento do Portal Dados Abertos, onde qualquer cidadão tem fácil acesso aos gastos governamentais. Mesmo com a ferrenha oposição que enfrentamos na campanha, com a patrulha sem trégua de nossos concorrentes, nada que desabone nossa gestão foi encontrado. A tolerância zero com esse tipo de crime continuará orientando nossas ações e decisões.
Para melhorar a sensação de segurança da população, que ações serão desenvolvidas num eventual segundo mandato?
Continuaremos com o nosso Pacto pela Vida, priorizando o combate aos crimes violentos e aos homicídios. É um programa que já mostra resultados. Nós tivemos a maior redução do número de homicídios do Brasil: 38%. Fechamos o ano passado com a menor taxa de homicídios dos últimos anos. Foi a melhor dos últimos 29 anos. Estamos com 20 homicídios a menos do que o mesmo período do ano passado. E vamos avançar, nós estamos fazendo pesquisa de vitimização, identificando as manchas onde ocorre o maior volume de crimes contra o patrimônio e violentos para atuar, e estamos conseguindo indicadores muito positivos. Já estamos realizando concurso para contratar 3.300 policiais militares, e faremos concurso também para a Polícia Civil.
Que investimentos serão feitos em infraestrutura urbana e mobilidade?
Nós já trabalhamos na reforma dos viadutos da rodoviária de Brasília, região por onde passam mais de 700 mil pessoas por dia, recuperamos viadutos nas vias N1 e S1, recuperamos a represa da Vargem Bonita, que punha em risco a vida e o patrimônio das pessoas que moram na região. Estamos fazendo a manutenção da ponte das Garças e preparando a da ponte JK. Vamos terminar as obras do Trevo de Triagem Norte, com a conclusão das duas novas pontes do Bragueto.
E os reajustes salariais que os servidores públicos estão esperando? Vão sair?
Sim! Na Lei Orçamentária Anual de 2019, que nós já encaminhamos, consta a previsão de R$ 600 milhões a serem destinados à recomposição salarial, além da contratação de novos servidores. Mas a promessa de paridade à Polícia Civil e Militar entre outras categorias é demagógica, geraria um aumento de despesas da ordem de R$ 4 bilhões por ano com as quais o Distrito Federal não tem condições de arcar.
A gestão da saúde pública é um problema em todo o país. Como o senhor lidou com essa questão aqui no Distrito Federal e o que pretende fazer num próximo mandato?
Reconhecemos que, na saúde, estão os nossos maiores desafios, pois durante anos a área foi gerida irresponsavelmente. Quando assumimos o governo, serviços prestados sem contrato geravam um ônus de cerca de R$ 600 milhões cada ano. Entre eles estavam a UTI do Hospital de Santa Maria, o fornecimento de alimentação, manutenção de caldeira, lavanderia, vigilância e limpeza. Nós ajustamos isso, gerando economia e racionalizando gastos. Também houve avanços importantes. Implantamos o Instituto Hospital de Base, com uma gestão mais moderna, mais agilidade nas compras de medicamentos e no atendimento aos pacientes. Reabrimos 107 leitos e várias salas de cirurgia na unidade. Construímos o novo Hospital da Criança, com 38 leitos de UTI. Nomeamos quase 10 mil profissionais da saúde, recuperamos equipamentos e zeramos ou diminuímos substancialmente as filas de exames e de diversos procedimentos, como a radioterapia. Ampliamos a cobertura do Programa Saúde da Família de 29% para 66%. Enfim, fizemos bastante, apesar das restrições de caixa. Agora, com a casa arrumada, faremos muito mais. Vamos construir o novo hospital da Ceilândia, aumentar a cobertura do Saúde da Família para todas as comunidades vulneráveis do Distrito Federal, contratar mais servidores.
Há a previsão de terceirização de hospitais no seu próximo governo?
Não. Veja bem, o que implantamos no Hospital de Base foi um modelo de gestão mais moderno e eficiente. Em agosto, foram realizadas mais de 900 cirurgias, o dobro do ano passado, com o mesmo orçamento. Os atendimentos continuam 100% gratuitos, o hospital é 100% público, está 100% dentro do Sistema Único de Saúde. Esse modelo pode ser estendido para outras unidades no DF.
Quais são as suas propostas para a educação, uma área extremamente sensível, já que é determinante na construção de um futuro melhor para as pessoas?
Atender toda a demanda de crianças na educação infantil é um compromisso fundamental do nosso governo. Conseguimos criar, nesse primeiro mandato, 16 mil vagas para crianças de 3 a 5 anos de idade. Isto sem contar o quanto temos investido nas escolas de todo o DF. Em 2017, foram R$ 118 milhões repassados através do Pdaf, quase três vezes mais que em 2014. Também nomeamos quase 2.600 profissionais, dos quais 2.192 são professores. Duplicamos o número de Centros de Línguas, ampliando em mais de 20% a oferta de vagas. No próximo governo, queremos zerar a fila de espera no atendimento 156. Serão criadas 25 mil vagas para crianças de 6 meses a 3 anos de idade. Assim, mães e pais poderão ir trabalhar, estudar e se dedicar a outras atividades sabendo que seus filhos estão sendo bem cuidados. Continuaremos investindo no programa #BoraVencer, que prepara nossos jovens para as provas do Enem e para concursos públicos. Vamos investir nas escolas técnicas, no ensino técnico e tecnológico, para oferecer oportunidades para, pelo menos, mais 15 mil jovens.
Como o seu governo abordou a questão fundiária e de habitação e o que vai acontecer daqui para frente?
Estamos fazendo o maior projeto de regularização fundiária de toda história do DF. Já entregamos 63 mil escrituras, regularizamos templos religiosos e vamos dar continuidade a esse projeto. Em nosso próximo governo, serão construídas 50 mil unidades habitacionais, vamos entregar pelo menos mais 30 mil escrituras e consolidaremos a regularização também na área rural. Outro ponto muito importante é a situação dos condomínios da cidade que continuarão no seu processo de venda direta das áreas da Terracap. No nosso programa de governo, consta também o compromisso da implementação do programa “Aluguel Legal”, um subsídio para a população de baixa renda, e do “Lote Legal”, com assistência técnica para população de baixa renda em áreas do Recanto das Emas, Samambaia, São Sebastião, Planaltina e Sobradinho.
Qual é a sua avaliação da atuação da Agefis?
Foi decisiva na gestão do solo em nossa cidade. Pensar em acabar com a Agefis é passar a mensagem de que Brasília é terra de ninguém, que qualquer um pode chegar a tomar posse de uma área. Isso seria um enorme retrocesso.
Um grande avanço do seu Governo foi a desobstrução da Orla do Lago Paranoá. Esse projeto já foi encerrado?
Ainda não! Depois de desobstruir 1,7 milhão de metros quadrados de orla e entregar o espaço à população, o nosso compromisso agora é implantar os três primeiros trechos do projeto do Masterplan da Orla do Lago Paranoá, escolhido por meio de concurso público. Vamos terminar a implantação das ciclovias, iluminação e de vegetação da faixa de APP, especialmente nas QL 10 e 08 e concluir as obras do Polo 03 do Projeto Orla (concha acústica). As obras serão feitas por meio de execução direta pela Novacap. As mais complexas contarão com financiamento do Fonplata, cuja solicitação já está em andamento.
E na área cultural? Embora alguns espaços já tenham sido devolvidos à população, o que mais o senhor planeja fazer para fomentar a cultura, as manifestações artísticas em nossa cidade?
Nós já fizemos o maior investimento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), e de forma regionalizada. Foram R$ 44 milhões, para todas as regiões administrativas, tais como: Gama, Candangolândia e Fercal. Pagamos mais de 12 milhões em dívidas antigas da Secretaria de Cultura e escolhemos para a pasta uma equipe autônoma de especialistas em cultura, sem partidarismos e favorecimentos. Inauguramos um Centro de Artes e Esportes Unificados em Recanto das Emas e dois em Ceilândia. Reformamos Espaço Renato Russo, o Centro de Dança e o foyer da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro, que é a nossa prioridade para o próximo mandato. Terminamos os Complexos Culturais de Planaltina e Samambaia e fizemos parcerias para melhorar a gestão do Memorial dos Povos Indígenas. Elegemos Conselhos Regionais de Cultura em 27 regiões administrativas, formados pela comunidade cultural e pela população, para monitorar e opinar na política cultural do DF. Criamos o Conselho do Patrimônio Cultural para preservação do patrimônio do DF, dentre outros. A Lei Orgânica da Cultura de 2018, considerada a lei mais moderna da área do país, foi elaborada com o apoio da comunidade artística, desburocratizou o incentivo à produção cultural. Com tudo isso, temos uma base sólida e ampla participação popular para o fomento da cultura em nossa cidade. No o Plano de Cultura que elaboramos, há diversas ações previstas para a área até 2027.
O que a população pode esperar do seu próximo governo em termos de bem-estar social?
Nós sabemos que a recuperação total da economia ainda vai demorar algum tempo. Brasília é uma cidade de grandes desigualdades sociais. Para reduzir essas desigualdades, estamos nos comprometendo a dobrar o valor do DF Sem Miséria em 2019. Antes disso, vamos fazer um recadastramento para identificar as famílias que realmente necessitam do benefício.
Haverá fomento ao turismo?
A própria desobstrução da orla do Lago Paranoá deve contribuir para a oferta de atrações turísticas da nossa cidade nos próximos anos. Nós já estamos fazendo a reforma da Torre de Televisão e reabrimos a Torre Digital. Vamos investir na melhoria da iluminação dos monumentos da nossa cidade, colocando a iluminação de LED. O turismo é um fator de geração de renda e emprego e nós vamos investir nisso. Também vamos manter a realização de eventos como a Campus Party, que atraem muitos visitantes.
Como o senhor avalia o seu primeiro mandato?
Foram anos difíceis, de pouco sono e muito trabalho. Minha rotina é sair e de casa às 6 da manhã e voltar meia noite, de segunda a segunda. Cada salário que pagamos rigorosamente em dia, cada fatura que quitamos exigiu muito cálculo e muito rigor na administração do dinheiro do contribuinte. Sei que muitas das minhas decisões causaram desgastes, já que não agi por populismo nem para agradar determinado setor, mas sempre pensei no bem geral da população. Eu sou uma pessoa de muita fé, e fui buscar na fé o ânimo para vencer todos os desafios. Apesar das dificuldades para gerir uma das maiores cidades do Brasil, com mais de três milhões de habitantes, eu estou muito feliz com o que conseguimos até aqui, e sinto que agora estamos numa situação muito melhor do que a que encontrei quase quatro anos atrás. Hoje temos condições de fazer muito mais por Brasília.