Voto obrigatório divide opiniões pelo país
Pesquisa Datafolha mostra que apenas 42% dos brasileiros votariam mesmo que o voto fosse facultativo
Fernanda Barros
Pesquisa Datafolha de 2014 mostrou que 61% dos brasileiros acreditam que o voto no Brasil não deveria ser obrigatório. Resultados dividem opinião pelo país. Cleyton Feitosa, doutorando em ciência política na Universidade de Brasília (UnB) acredita que uma parcela minoritária dessa porcentagem expressa uma posição consciente sobre o assunto.
Para ele, esse resultado expressa sentimentos de indiferença com o processo eleitoral ou fortemente ligados a discursos que enfatizam o caráter corrupto da classe política. “Pra que vou me deslocar da minha casa para exercer algo que não opera transformações?”, questiona. “Qual a garantia que temos de que nossas escolhas eleitorais serão respeitadas?”. Ele acredita que esse sentimento anti-político datado do ano de 2014 se deve também à deposição da então presidente, Dilma Rousseff.
Em comparação com pesquisas Datafolha anteriores, a taxa dos brasileiros contrários ao voto obrigatório vem crescendo desde 2010, e atualmente, essa taxa é a maior já registrada pelas pesquisas. Os resultados mostram ainda que 57% dos brasileiros, entre 18 e 70 anos, não votariam nas próximas eleições, no caso de o voto ser facultativo.
Segundo Feitosa, o voto obrigatório estimula a participação política e a ampliação do debate sobre a vida pública, além de ter caráter educativo do processo eleitoral. “Outro elemento que justifica a obrigatoriedade é a autorização que a população concede aos nossos representantes, fortalecendo o vínculo entre governantes e governados e a legitimidade desse processo”, conta.
A estudante Letícia Dias, tem opinião contrária. “Eu sou contra o voto obrigatório pois, às vezes, as pessoas não têm uma opinião política e não vai realmente fazer uma pesquisa e ir atrás de saber e conhecer”, diz.
Não é o que pensa o aposentado Elitônio Moura, que acredita que ainda é preciso que o país tenha a obrigatoriedade do voto, por conta da falta de escolaridade. Ele diz que o voto só é obrigatório na teoria, já que as pessoas podem anular, colocar em branco, justificar ausência ou pagar multa por não votar. “A gente precisa que todos votem, pois, a população ainda não tem consciência da importância do voto. Ser facultativo abriria precedentes para maior compra de votos”, relata.
Para o estudante de ciências políticas Iago Guimarães, o voto obrigatório é uma tentativa não funcional de educação política para a população, pois, desvia o poder da elite para toda a sociedade.
Ele acredita que é importante para evitar elitismo nas eleições, já que, a maioria da população, se não obrigada, deixaria de votar. Segundo ele, isso deixaria a decisão para pessoas com maiores formações acadêmicas, níveis de riqueza e, até mesmo, tempo livre.
É o que defende a estudante Ludmylla Geiger que votará pela primeira vez este ano. “Sou contra o voto obrigatório. Quem tinha que votar mesmo eram as pessoas que entendem, que não são facilmente manipuláveis e que querem mudança”, conta a jovem. “Tinha que votar mesmo, quem entende de política”, complementa.
Cleyton Feitosa diz ainda que, na realidade atual do Brasil, o voto facultativo seria um agravante na indiferença política da população e afastaria a sociedade da participação, o que dificultaria o processo de educação política necessário para o exercício da cidadania.