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sexta-feira, maio 17, 2024

CopacaBanca: ponto de encontro de músicos já é tradição na Asa Sul

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Com sete anos de existência roda de chorinho vira xodó e ganha o coração e os ouvidos de quem frequenta a banca aos sábados na 208 Sul

Por Gabriel Torres

Podia ser apenas mais um sábado normal com a cara pra cima ou dormindo até as 12h desse que vos escreve, mas eu tinha uma missão a cumprir: ir a uma banca de jornal a qual tem uma tradicional roda de choro. Um programa de índio ou careta num sábado de manhã para um jovem de 20 anos? De acordo com o pré-conceito estabelecido pelo bloqueio de experimentar coisas novas, sim. Mas, lá fui eu em busca de mais uma história para contar.

Saí de casa e peguei um metrô até a estação 108 Sul. De lá, desci para as 200 e fui em busca da CopacaBanca. Após uns 10 minutos de caminhada cheguei na quadra e o som dos instrumentos ali tocados já começou a me envolver. Chegando na banca procurei um banco para sentar e, em questão de minutos, fiquei maravilhado com a qualidade musical da roda e do “clima família” do local. Fato que me chamou a atenção foi o som de instrumentos que não estou acostumado a ouvir no dia-a-dia, como a flauta, clarinete e o bandolim.

O talento e a harmonia dos músicos encantam os frequentadores.

Fiquei ali hipnotizado por uns 20 minutos com toda a atmosfera que cercava a banca naquele momento, aquela coisa intimista que eu só via nos vídeos caseiros feitos nas rodas de samba do Arlindo Cruz. Depois de tomar um garrafinha de água para enfrentar o calor escaldante de Brasília, e ter percebido que já tinha “perdido” um bom tempo deslumbrado com aquilo alguém tinha que ir lá para saber mais da história da banca, como começou e o porquê daquele lugar ser assim. E lá fui eu entrevistar o dono do pedaço.

A bela Tereza Maria com seu pandeiro.

Trata-se do senhor Carlos Bastos Valença, 66. Nascido em Recife, Pernambuco, e criado em São Bento do Una, terra de Alceu Valença, como ele fez questão de lembrar. Seu Carlos já fez de tudo na vida de avicultor a dono de trio elétrico. Chegou na capital em 1997 e em outubro de 2012 assumiu a banca, segundo ele por terapia. “Montei a banca por terapia ocupacional”. Porém, ele teria que abdicar de uma de suas paixões aos sábados, devido a aquisição do empreendimento. Se o jornaleiro não vai até a música, a música foi até a ele graças a um pedido “Eu fazia escola de choro e como não dava mais para ir as rodas no sábado, porque tinha comprado o estabelecimento, chamei o pessoal pra fazer a roda aqui e deu certo”, explicou.

Carlos Bastos Valença, com sua esposa Terezinha e o violonista Saul.

A ideia de fazer uma roda surgiu do professor de choro, Fernando Cesar. “Eu toco violão e num workshop o Fernando nos aconselhou a fazer roda de choro ao invés de grupos pra aprender, de fato, como se toca. Aí começamos a fazer uma no Parque da Cidade e depois que eu chamei ela veio pra cá.” Um dos diferenciais desta roda é que ela é aberta a quem quiser tocar um instrumento ou se arriscar cantando. Quando perguntado sobre o nome da banca, seu Carlos afirmou que ela foi herdada do ponto, mas é uma homenagem ao piso do estabelecimento que remete ao calçadão de Copacabana. Coincidência ou não, os gêneros musicais mais tocados lá são o choro e o samba, ambos oriundos do Rio de Janeiro e da boêmia carioca.

O jornaleiro revelou que ainda toca nas rodas apresentando os frevos de bloco da sua terra para os componentes da roda e quando tem um tempinho livre está sempre praticando. O aposentado ressalta que a banca é uma forma dele ocupar seu tempo, sendo que os sábados são o ápice da sua semana devido as atrações musicais “Trabalho de segunda a sexta para no sábado receber essa festa!”, afirma contente e com brilho nos olhos. Antes que eu esqueça, ele pediu para avisar que: a roda acontece, religiosamente, todo sábado ás 10h e vai até quando os músicos pararem, geralmente até ás 14h. Todos que se dispuserem a ir serão bem-vindos.

Do proprietário para o solista

Segundo o dono bem humorado da CopacaBanca “Quem sola pede passagem e quem fica acompanhando fica só na periferia”. Um dos que pedem passagem é Jander Lúcio Martins Miranda, 38, carioca que reside em Brasília há 15 anos. Ele foi para Clube do Choro com a finalidade de aperfeiçoar suas habilidades no cavaquinho e aproveitou a oportunidade para entender e conhecer o chorinho mais afundo, já que, como bom carioca, teve seu primeiro flerte com o instrumento ao ouvir samba “Desde moleque me interessei pelo samba. Quando vim pra Brasília ingressei na Escola de Choro Rafael Rabelo e me apaixonei pelo negócio e fui tocando”, contou.

Das cordas a percussão

José Luiz Fagundes Miguel, 53, é mais um imigrante dessa turma. Há 10 anos atrás, ele saiu do Rio Grande do Sul para vir para a capital federal. Segundo o pandeirista ele nunca tinha sequer ouvido choro na vida. “Quando aqui cheguei não ouvia nem música brasileira, muito menos samba e choro. Eu acho que gaúcho é um pouco mais moderno, eu ouvia mais blues e rock. E Brasília é a capital brasileira, talvez mundial, do chorinho. Ele me encantou e eu já estou no 14º  semestre de pandeiro no Clube do Choro aprendendo com os mais virtuosos”, contou entusiasmado.

José Luiz Fagundes Miguel, 53, gaúcho e pandeirista com uma camisa de Brasília

O músico afirmou que a roda é muito especial e que mesmo contando com muita gente de alto nível não existe uma cobrança quando um ou outro erra. Todos se ajudam e mantem a harmonia graças ao ponto que une os presentes: o amor pela música. Prova disso é o depoimento que ele dá sobre tocar um instrumento e o que acontece com ele quando não pode ir a banca aos sábados.

“Tocar um instrumento é uma coisa fascinante! As pessoas quando você olha em volta estão com um sorriso no rosto, sem um motivo aparente, apenas pelo o que a música nos proporciona. A música que nos desarma, a vida já tem tanta coisa difícil a gente precisa desse momento de entretenimento de brincadeira, de coisas mais lúdicas, que eu tenho convicção que uma roda dessa traz. Eu não me sinto mais completo se eu não tocar. Quando eu estou longe de Brasília, posso estar num lugar muito agradável, na beira de uma praia, num lugar muito legal, mas eu sinto saudade dessa roda da CopacaBanca. É uma coisa que fascina e une a todos.”

O amor de Miguel pelo gênero musical é tamanho que o governante de TI sai da sua casa no Lago Norte para ir até a 208 Sul sempre que pode e revelou um sonho atípico motivado pelos seus dois passatempos preferidos “Um detalhe da minha vida é que eu sou velejador e como eu passo pela ponte JK, as vezes, no sábado de manhã tem meus amigos velejando e as vezes a música me traz pra cá. Muitas vezes saio pra velejar e acabo indo tocar choro e as vezes saio pra ir tocar choro, olho para o lago e o que me encanta é velejar. Eu gostaria de um dia poder velejar de windsurfe tocando pandeiro, o que parece um pouco impossível, mas é meu sonho”, brincou.

Dos músicos ao público

Enquanto estava tomando coragem para falar com os músicos – nem tanto por timidez, mas por medo de atrapalhar o show mesmo – falei com duas pessoas que estavam dividindo uma mesa e refrescavam-se do calor com as bebidas e a mente com a música. Juliana de Andrade, 52, disse que não ia sempre por morar longe, mas sempre que podia passava na banca. Ela contou os motivos para ir até lá aos sábados “Eu venho pela música, ouço choro desde a minha infância e tenho memória de ouvir com minha família. Fora a música, o ambiente e as pessoas são muito agradáveis e receptivas”, contou.

Carlos Alberto Pires da Silva, 74, afirmou vai “quase sempre” a banca e disse que seu amor pelo choro é originado pela sua nacionalidade “Nasci brasileiro. Que brasileiro não gosta nem de samba, nem de choro? Não tem!”, contou aos risos. Um fator que causa ele gosta bastante no evento é do fato da roda não ser fechada “O grupo não é fechado, é aberto. Se você quiser cantar, você canta. Se for desafinado não tem problema”, explicou.

Os participantes da roda em ação

Hora de se despedir

Já era quase 14h e todos já estavam se mobilizando para ir embora. Os músicos estavam tendo aquela resenha final enquanto guardavam os instrumentos e conversavam, naquele clima boêmio, sobre música, futebol e outros assuntos. Me despedi do pessoal e fiz o mesmo caminho da ida.

Pela experiência que eu tive, pelo que as pessoas presentes relataram e pelos sorrisos e clima criados naquele simples local indico a todos que apreciam boa música a passarem, pelo menos, um pedacinho da manhã e poder vivenciar presencialmente o que relatei nas linhas acima.

Serviço

Roda de choro na CopacaBanca

Endereço: SHCS SQS 208 BL B

Data: Aos sábados

Horário: a partir das 10h

Entrada gratuita

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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