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sexta-feira, julho 26, 2024

Lugar de mulher é no Congresso Nacional

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Por Cristina Roberto

A maioria de nós cresceu ouvindo dizer que lugar de mulher é na cozinha. É também. Foi lá que trabalhei por muitos anos como cozinheira, para criar meus filhos. Foi na cozinha que aprendi a empreender, a ousar, a descobrir que colocavam veneno em nossos pratos e também onde comecei a sonhar com um país melhor. E sem veneno na comida, por exemplo.

Foi na elaboração de receitas que aprendi a fazer contas, a entender a política e perceber que alimentação é um ato político de empoderamento e de soberania nacional. Ampliei meus horizontes e a cada dia fica mais evidente que está faltando mulher nas estâncias decisórias, nos espaços de poder. O  Congresso precisa de mais, muito mais mulheres, para dar um toque especial, temperar melhor as nossas leis e assim começarmos a mudar o atual cenário de injustiças e desigualdades sociais no nosso país.

O Brasil ocupa a 32ª posição em um ranking de 33 países latino-americanos e caribenhos sobre a participação feminina em parlamentos. A nossa posição nesse ranking é uma vergonha para brasileiras e brasileiros, que é liderado por Ruanda, país africano, com 61,3% de parlamentares eleitas. Em segundo lugar vem a Bolívia, nossa vizinha,  com 53,1%. Cuba ocupa o terceiro lugar com 49% de mulheres em seu parlamento.

Não  custa lembrar  aqui que até em países onde as mulheres usam burca, elas estão mais presentes nos parlamentos do que nós brasileiras. Será que temos a liberdade que acreditamos? Que temos a  liberdade de escolha que imaginamos ter?

No Brasil, as mulheres conquistaram o voto há quase um século. Ao mesmo tempo, obtivemos o direito de  ocupar cargos legislativos, pois passamos a ter a prerrogativa de votar e de serem votadas. Atualmente, as mulheres representam mais da metade da população brasileira e do nosso eleitorado. No entanto, esses altos índices de população feminina não estão representados nas instâncias políticas institucionais. Apenas 10,5% das mulheres ocupam cadeiras na Câmara Federal.

A situação brasileira é inaceitável,  tendo em vista que há políticas de promoção da participação das mulheres nos espaços institucionais como cotas partidárias, destinação específica de parte do Fundo Partidário e maior presença no horário eleitoral gratuito. Esses mecanismos de incentivo à participação da mulher na política em contrapartida à sua baixa representatividade demonstra que a cultura machista continua forte nos partidos políticos. A pouca  visibilidade e o baixo investimento em candidaturas femininas reflete a predominância dos homens nas decisões partidárias e, em consequência na inexpressiva presença das mulheres na política. Precisamos alterar isso.

Apesar das dificuldades em mudar o quadro de desigualdade de gênero, há caminhos, é possível. A oportunidade para ampliar a participação feminina nas instâncias políticas foi fortalecida no momento em que a ONU publicou recentemente que uma de suas metas é a garantia da participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública. Precisamos trabalhar para tirar essa meta do papel.

O golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff atingiu a todas nós mulheres, nos apequenou. Os direitos constitucionais, sociais, previdenciários e trabalhistas foram impactados. A ausência de investimentos do governo golpista  em Saúde, Educação, Assistência Social, além da desvalorização sistemática do salário mínimo e a reforma trabalhista, certamente, atingem principalmente a vida de milhões de trabalhadoras que dependem dos programas públicos nessas área. A população de baixa renda no Brasil esta desassistida nesse governo golpista. Houve um desmonte da rede de proteção e amparo aos mais pobres no país. Cabe a nós, mulheres, lutarmos para reaver as conquistas obtidas nos governos de Lula e Dilma.

É fundamental o enfrentamento a todas as formas de violência contra a mulher por meio da adoção de medidas preventivas, punitivas, de proteção e de atenção, assegurando  a plena aplicação da Lei Maria da Penha.  É preciso lutar, ainda,  pelo direito e garantia da saúde da mulher e pelo exercício pleno dos seus direitos sexuais e reprodutivos proporcionando a autonomia  sobre seu corpo.

Fortalecer e ampliar os mecanismos de participação popular e lutar por uma maior presença da mulher nos espaços de poder é fundamental para que a nossa sociedade se estruture sobre pilares sólidos.

Está faltando mulher no Congresso Nacional. Vamos à luta, mulheres!!!!

Cristina Roberto é cozinheira, empreendedora, ativista cultural e defensora da alimentação segura e saudável.

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