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sexta-feira, março 29, 2024

Marconi Antônio de Souza, o pioneiro de Brasília e empresário de sucesso…

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Marconi Antônio de Souza, o pioneiro de Brasília
e empresário de sucesso…

…era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones. Deixou os pais em MG, chegou a Brasília quase “sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos”, num ano bissexto, em que a inflação quase bateu 100%, o golpe militar derrubou o Presidente João Goulart, o sedutor americano James Bond em “007 contra Goldfinger” lotava os cinemas, a banda Beatles expandia pelo mundo com “twist and shout” e a francesa Brigitte Bardot pisava em terras cariocas fazendo o mundo conhecer Búzios. 1964, ano marcante!

Por CAROLINA CASCÃO

Marconi Antônio de Souza era muito menino quando chegou a Brasília. Nem imaginava que faria a diferença e seria tão importante para o desenvolvimento da cidade -, uma peça fundamental na tecnologia e na geração de empregos. Em 1964, este pioneiro e cidadão honorário da cidade, com apenas 14 anos, vislumbrou o traçado moderno em formato de cruz da capital, que até então estava com apenas dois anos em cada perna, digo em cada eixo, no monumental e no rodoviário.

Diretório do PSD em Brasilia. Marconi é o segundo da direita pra esquerda, ao lado da avó.

Muita responsabilidade para uma criança de quatro anos, seu nome deveria se chamar Esperança e não Brasília. E com esse sentimento, os pais de Marconi, Orozimbo de Souza Filho e Niva Pessoa de Souza, permitiram que Marconi fizesse as malas e ampliasse os horizontes, pois a pequena e linda cidadezinha chamada Pimenta, onde nascera em 13 de junho de 1950, em Minas Gerais, não seria suficiente para uma criança com futuro promissor.

Tempos de escola

 

Marconi é um empresário que contribuiu (e ainda o faz) significativamente no desenvolvimento de Brasília. E aos quase 69 anos de vida, continua como cidadão dedicado em prol da preservação do projeto urbanístico original de Oscar Niemeyer, pela qualidade de vida dos habitantes da cidade e pela proteção ambiental, com destaque ao lago Paranoá -, como Presidente da Associação dos Amigos do Lago Paranoá, a ALAPA.

Fiquei deslumbrado com o traçado moderno da cidade. A iluminação chamou a atenção. Os cabos subterrâneos nem ao longe se pareciam com os fios expostos da cidade de interior. Não polui o ambiente. É limpa a imagem. A cidade não tinha semáforos nem cruzamento”, disse.

Época em que os microcomputadores chegavam ao Brasil.
“Notem os fusquinhas atrás”

Marconi chegou à cidade com o tio, o dentista Luiz Gonzaga (e sua esposa, Flora Pessoa) -, que viera como presidente do partido PSD (Partido Social Democrata). Estabeleceram moradia no Gama, cidade do entorno do Distrito Federal, antes batizada como uma das “cidades-satélites”, onde Marconi permaneceu até 1968, ano que se mudou para 212 sul. Os pais vieram um ano depois.

Assisti ao crescimento de uma cidade e à consolidação de Brasília como capital. E com ela cresci. Tive receio quando correu sério risco de voltar ao Rio de Janeiro. Mas ao decretarem que as embaixadas tinham que estabelecer-se aqui e não no Rio, vi que já era um passo a mais distante de terras cariocas”, contou Marconi.

No início, a rotina era dividida entre o trabalho na banca de revista do tio e os estudos do 3º ano científico no Setor Leste. E nada tem a reclamar, pois pouco tempo depois, as habilidades extraordinárias em venda, o fez destaque na Olivetti, empresa italiana, fabricante de máquinas de escrever e calculadoras.

A sorte favorece a mente bem preparada”

Se pudesse escolher uma frase, a do cientista francês, Louis Pasteur, seria a melhor para explicar a postura de Marconi, o motivo da trajetória de sucesso, de ser merecedor do título “Cidadão Honorário de Brasília”, em 1998, pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, e do Diploma e Medalha de Honra Mérito de Pioneiro, por ter sido importante na construção e consolidação de Brasília.

Brasília lhe proporcionou estrutura pessoal e perspectivas para o futuro. E o melhor, segurança. Marconi seguiu por conta própria com a cara e a coragem. Em 1977, numa iniciativa curiosa, inaugurou a lanchonete Snoopy, na 110 sul. O estabelecimento foi montado para vender sanduíches de qualidade com pães bem macios e saborosos, preparados pela tradicional padaria Delícia. O big snoopy, por exemplo, era um bom gourmet, num época em que essa palavra nem sonhava em existir. “Um amigo acabara de chegar dos EUA e me sugeriu McDonald´s como nome da empresa. Nunca tinha ouvido falar desse fast food até então, que já bombava em terras americanas. Preferi Snoopy, o personagem. Mas vendi logo depois, não era a minha praia”. Para acompanhar o mercado, a datilografia era a técnica importante e imprescindível para a formação de um bom currículo, Marconi, então, montou uma empresa que oferecia curso rápido de digitação -, e, que consequentemente, ajudavam as pessoas a se colocarem no mercado com mais uma experiência.

A tecnologia e Marconi, o verdadeiro caso de amor.

Dentre tantas as realizações, as que se destacam estão no setor de tecnologia. A Olivetti (já citada acima) foi importante ao investir em Marconi. “Concluí, inclusive, por esta empresa, um curso de marketing interno”, disse.

As ferramentas básicas para seguir adiante e o destino direcionaram Marconi a inaugurar a filial da Polimax, em Brasília, na década de 80, época em que foram lançados os primeiros microcomputadores. Dez anos depois, mais outro desafio, a empresa Marconi Transportes, de distribuição de combustíveis.

Em 1991, adquiriu 50% do controle acionário da Microtécnica Informática -, dirigida para a assistência técnica e manutenção de equipamentos de informática.

Precursor do primeiro cartão magnético de tickets de alimentação

Atualmente, Marconi emprega pelo menos 100 funcionários, só em Brasília, na Tripar Bsb Administradora de Cartões Ltda, fundada em 1998, fruto da larga experiência obtida na Polimax (firma de tecnologia). A empresa modernizou o mercado de Brasília, no ano 2000, por meio da implantação dos primeiros cartões magnéticos de tickets de refeição em substituição aos “carnês” de papel -, uma iniciativa desafiante, na época, que visava garantir a segurança, evitar fraudes e comércio clandestino e, dinamizar as operações. Missão concluída com sucesso e um marco evolutivo para acrescentar à história da empresa que, em 2007, criou a bandeira própria, a Vale Shop -, resultado do desenvolvimento de um software moderno de gerenciamento de benefícios, que facilita, por exemplo, a interação entre usuário do cartão e fornecedor. A empresa tem escritórios em Goiânia, em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e em Fortaleza.

Na época da vitrola, do rum com Coca-Cola e do fervor dos rachas.

No toca-fitas do primeiro carro, um charmoso Gordini, comprado aos 18 anos, uma baladinha do Credence Clearwater Revival, um “broto” e, quem sabe, uma “corrida de submarino”, de frente para o “mar” lago Paranoá. Numa época em que os amores não eram separados nem pelo freio de mão entre os bancos nem pela violência, o beijinho “despretensioso” na porta de casa, no setor de embaixadas e no cine Drive-in (aliás, o único do País em funcionamento).

Marconi era quase uma lenda, mas por não assumir nenhuma namorada, acabava sozinho em datas oficiais como no dia dos namorados, sem presente, no dia do Natal, e sem aquela visitinha rápida na casa do broto após a ceia para cumprimentar a família -, sua fama de namorador não o permitia. Uma bala “perdida” que atirava, não ligava no dia seguinte, não fazia vítimas, pegava de raspão, mas deixava saudades. Dias esses contados até conhecer a mãe de seu filho e companheira, a cearense Maria Lucila Portela Alencar. Juntos tiveram Marconi Antônio de Souza Filho, um presente de aniversário ao Marconi pai, já que nasceram no mesmo dia, só que obviamente em anos diferentes. O filho, hoje, com 30 anos, formou-se em filosofia na Escócia e, hoje, reside em Londres.

Voltando ao passado, a década de 70 de Marconi, incluía desfilar com seu fusca 1968, na galeria do Cine Karin, na 111 sul, localizada de frente para o eixinho -, sem esquecer daquela paradinha estratégica e marota bem na frente da lanchonete Chaplin. Lá, o trânsito parava literalmente no domingo à tarde.

Frequentar a boite (danceteria) do clube Iate, as sextas-feiras, à noite, também era uma atração. Assim como, tomar um cuba-libre (rum com coca-cola) no Bar Bem, um lugar só de “batidas” na 110 sul; um hi-fi (vodca com fanta laranja) nos “esquentas” da cidade, no Gilberto Salomão, o Drugstore, e um elegante dry martíni, imortalizado por James Bond, em agente 007, na época, no Sokana -, nome de bar que não condiz com o drink sofisticado pelo gim, vermute, gelo e até uma azeitoninha.

Com saudades, ele lembrou outros lugares bacanas da cidade, como a Mocambo, na 507 sul, tradicionalíssima; o Bar do Afonso, na 506 sul, quintal do trabalho , na época da Olivetti, parada obrigatória para o happy-hour, Confeitaria Pigalle, na 305 sul; Trianon, sorveteria na 302 sul que vendia Kibon.

Com Emerson Fittipaldi, em São Paulo, e seu filho Marconi , á direita.

O automobilismo, já era fortíssimo desde o inicio da cidade -, Marconi acompanhou a construção da pista do autódromo. “Além das corridas oficiais, lembro que, por segurança, antes da inauguração oficial da pista, fazíamos os nossos ‘pegas’ lá. Sem descartar a adrenalina, claro, das inusitadas corridas ilícitas na época, em lugares diferentes. Brasília não tinha tanta gente, nem trânsito. Os rachas aglomeravam muita gente. Era um acontecimento ao som de rock in roll e mulheres bonitas”, contou. “Participei desses eventos com meu fusca e depois com um opala amarelo, ano 1972, duas portas, coupé”, disse.

A paixão por carros continua até os dias atuais. Para preservar a tradição e nostalgia positiva, Marconi conserva três carros de colecionador genuíno, um Rolls royce branco conversível, em banco de couro marsala, ano 1975; um Alfa romeo spider, verde conversível, ano 1974 e o Corcel do pai, na cor marrom telha, ano 1974.

Amor eterno a Brasília

Brasília, o sonho do presidente Juscelino Kubitschek, realizado com total dedicação de alguns mestres, pelas veias da arquitetura de Oscar Niemeyer, do urbanismo, de Lucio Costa e do paisagismo, Roberto Burle Marx, permitiu que Marconi construísse aqui seus próprios sonhos. E, o melhor, os realizasse. “É a cidade que escolhi permanecer, viver, prosperar e constituir família”, afirma.

Com o único filho , Marconi, mesmo nome do pai
Foto: ABN News

Hoje em dia, a maior satisfação é ouvir música eletrônica enquanto dirige um de seus carros em direção ao Pontão -, lugar predileto à beira do lago (que tanto ama), onde encontra os amigos para confraternizar e degustar de boa gastronomia. Sem jiló e chuchu…únicas verduras que detesta e faz questão de passar longe. Assim como na vida, nem o amargo e nem o sem graça aguado, o bom mesmo é a apimentada comida mineira.

Da es. para á dir. Marconi Filho , a esposa Maria Lucila e o empresário Marconi.
Foto: Mocambo

 

 

 

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