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quarta-feira, abril 24, 2024

O homem que fez Brasília sorrir

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O homem que fez Brasília sorrir

Dentista dedicado, mineiro apaixonado pelo legado de Juscelino Kubitschek e amante da epopeia da construção de Brasília. Assim pode ser definido, em poucas linhas, Cléo Octávio Pereira, um dos pioneiros de Brasília. Nascido em Varginha (MG), no dia 15 de dezembro de 1921, o Doutor Cléo, como era conhecido em Brasília, teve enorme importância na vida da capital fundada em 21 de abril de 1960, seja como dentista, seja como personagem da vida da cidade.

Wilma , Cléo com o primeiro filho Paulo Octavio

Passou a juventude no interior mineiro, entre sua cidade natal, onde estudou a vida inteira no Ginásio Marista, e Lavras, onde visitava parentes desde pequeno. Em 1938, ainda em Varginha, serviu no Tiro de Guerra da cidade, mas como estava a poucos passos da faculdade, foi estudar odontologia no Rio de Janeiro, então a capital do Brasil.

Em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, um ano antes de se formar com louvor pela Escola de Odontologia da Universidade do Rio de Janeiro, foi completar o período de serviço à Pátria no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), como muitos universitários da época, saindo em 1945 como segundo-tenente da reserva. A este tempo, já tinha em mente casar-se com a jovem Wilma, moradora de Lavras, cidade que sempre considerou seu segundo lar.

Após concluir estudos e serviço militar no Rio de Janeiro, Cléo Octávio foi morar em Lavras, ainda em 1945, começando a exercer a odontologia. Dois anos depois, começou a namorar Wilma, sete anos mais jovem que ele. Os dois se casaram em 1949, ele com 28 anos, ela com 21. Um ano mais tarde, em 1950, nasceria seu primeiro filho, Paulo Octavio, hoje um dos maiores empresários de Brasília.

Wilma e Cléo Octavio com os filhos Cláudia , José Ronaldo e Paulo Octavio

Enquanto os filhos nasciam – depois de PO, Cláudia e José Ronaldo vieram ao mundo – e cresciam na pequena Lavras, Cléo Octávio e a esposa Wilma sonhavam em uma vida melhor para a família. A ideia inicial do casal era mudar para uma capital, para que as crianças pudessem estudar em um grande centro, pois Lavras contava apenas com a Escola Superior de Agricultura (ESal) – hoje a Universidade Federal de Lavras (Ufla).

Foi quando Cléo e Wilma assistiram o nascer de uma nova proposta de País, trazida pelo também mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, ex-governador do estado e candidato à Presidência da República em 1955. Doutor Cléo sempre teve enorme proximidade com o PSD, do seu amigo José Francisco Bias Fortes, derrotado por JK nas prévias para as eleições ao governo mineiro, em 1950. Passou a prestar ainda mais atenção em Juscelino após ele prometer, a Antônio Soares Neto, o Toniquinho da Farmácia, no histórico comício de Jataí (GO), em 4 de abril de 1955, que cumpriria com a Constituição e transferiria a capital do Brasil para o Planalto Central.

A partir deste comício, Cléo Octávio começou a colecionar recortes de jornais que falavam sobre a epopeia da construção da nova capital. E decidiu que os filhos iriam estudar em Brasília. Enquanto a terra vermelha do Cerrado goiano ia virando o sonho dos pioneiros, o casal Cléo e Wilma estruturava a mudança e tocava a vida em Lavras, uma cidade pacata, então com seus 27 mil habitantes. Mesmo com a cabeça no Planalto Central, aceitou a indicação do agora governador Bias Fortes, seu amigo, e foi presidir o Lavras Tênis Clube entre 1958 e 1961.

Casal muito querido por toda sociedade Brasiliense.

Mas a vontade de mudar de horizontes era imensa. Em 1958, Cléo Octavio capitaneou uma excursão de ônibus com lavrenses para conhecer a cidade que era rasgada no coração do Brasil. Ganhou uma recordação que manteve a vida inteira: uma gravata presenteada por JK.

Voltou da capital com a certeza que Brasília seria uma realidade, apesar da forte oposição que vinha dos políticos, no Rio de Janeiro, especialmente de Carlos Lacerda, da UDN. Mas o bem articulado dentista sabia que o futuro de sua família seria em Brasília, capital mais acolhedora que o Rio de Janeiro, e que proporcionaria muitas oportunidades a um profissional como ele, que tinha capacidade administrativa, trânsito político e carisma.

Cléo Octávio voltaria a Brasília para a inauguração da cidade, em 21 de abril de 1960. E começou ali a estruturar a sua mudança. No ano seguinte, veio na frente da família, para assumir a chefia de gabinete do então diretor-geral do Departamento de Educação da capital, Heli Menegale, função que permitiu trazer a mulher e os filhos para Brasília, em 31 de julho de 1962, de forma que as crianças pudessem começar o segundo semestre já nas novas escolas. Depois de longa viagem a bordo do Simca Chambord Tufão, que anos mais tarde daria de presente a Paulo Octavio, a família aportou inteira na SQS 106.

Ainda em 1962, fez o concurso para o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), e passou em primeiro lugar. Logo deixou a chefia de gabinete de Heli Menegale e foi comandar o serviço dentário do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC). Paralelamente, abriu seu consultório para atender clientes depois do expediente, sendo o terceiro dentista a se instalar na cidade e o primeiro no Setor Comercial Sul.

Como era um requisitado profissional, instalado em área nobre da cidade, logo foi fazendo sucesso e aproximando-se de outros pioneiros. Enquanto via os filhos crescerem, fundou o Conselho Regional de Odontologia no Distrito Federal. Incansável e carinhoso, investia na formação das crianças. Dava força, por exemplo, para a inclinação de Paulo Octavio para o mundo dos negócios, colaborando para que o filho começasse sua atividade profissional como vendedor de pecúlios do Grêmio de Beneficência dos Oficiais do Exército (Gboex), aos 15 anos, a pedido do próprio PO. E, ao lado de dona Wilma, frequentava os mais badalados salões, clubes e festas da cidade, emoldurando a vida social da capital com sua alegria e tiradas rápidas.

Sempre procurando se atualizar, Cléo Octávio viajou para congressos odontológicos em várias cidades do mundo, como as norte-americanas Las Vegas e Washington, e muitas outras Brasil afora. Enquanto o corpo aguentou, consertou sorrisos de gerações e gerações de brasilienses, até se aposentar em 1986, fechando o consultório na sala 123 do Edifício JK.

Mas o espírito ativo o impedia de ficar parado. Como tinha se formado em administração de empresas enquanto era dentista, voltou a trabalhar após quatro anos de descanso, agora como executivo. Assumiu o cargo de diretor-superintendente do recém-inaugurado Kubistchek Plaza Hotel, construído pelo filho Paulo Octavio. Durante três anos, esteve à frente da operação, e foi um dos responsáveis por transformar o empreendimento em um renomado cinco estrelas.

Em 1994, trocou a diretoria o hotel pelo cargo de diretor-presidente da PaulOOctavio Investimentos Imobiliários, já que PO voltara à vida política e resolvera se afastar das empresas. Nesta época, Cléo Octávio já colecionava inúmeras distinções e reconhecimentos públicos, como o título de Cidadão Honorário Lavrense, concedido em 1991, por unanimidade, pela Câmara de Vereadores do município em que morou entre 1945 e 1962. Também era membro do Clube dos Pioneiros de Brasília e fora condecorado pelo GDF. Recebeu, também em 1991, a comenda da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho. E, em 2002, viu a Câmara Legislativa do DF agracia-lo com o título de Cidadão Honorário da capital, um reconhecimento por tudo o que fez por Brasília.

Cléo Octavio com seu filho Paulo e a esposa Wilma

Novamente aposentado, agora da carreira de executivo, a partir dos primeiros anos do século 21, Cléo Octávio passou a dedicar-se à família, que o cercou de carinhos e atenções nos últimos anos de vida. O pioneiro escreveu o último capítulo de sua história no dia 2 de junho de 2010. Mas até hoje permanece vivo na lembrança de todos que conviveram com o sempre alegre, competente e bem relacionado mineiro de Varginha e cidadão de Brasília.

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