A grandeza, em muitos aspectos, é uma faca de dois gumes, especialmente no contexto político. Ela oferece a oportunidade de impactar positivamente a sociedade, promovendo mudanças significativas e progresso. No entanto, a história e a teoria política estão repletas de exemplos que ilustram um perigo intrínseco à grandeza: o risco de que ela possa distorcer a consciência daqueles que detêm o poder. Este fenômeno não é apenas uma observação contemporânea, mas algo que filósofos e pensadores políticos vêm analisando há séculos.
Um dos exemplos mais elucidativos dessa distorção vem de Lord Acton, um historiador britânico do século XIX, famoso por sua declaração: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Esta citação ressalta a ideia de que a grandeza, através do poder, tem o potencial não apenas de desviar as ações dos líderes de seus princípios éticos originais, mas também de alterar fundamentalmente a sua consciência, afastando-os das necessidades e realidades do povo que servem.
Platão, na sua obra “A República”, discute a relação entre poder e caráter moral, argumentando que a verdadeira justiça surge quando cada parte da sociedade cumpre o seu papel adequado, sem sobrepor-se aos outros. A justiça, para Platão, é uma harmonia que é facilmente perturbada pelo desejo de poder. Ele sugere que mesmo os guardiões da cidade, escolhidos por suas virtudes, podem se tornar tiranos se não forem devidamente vigiados. Isso reflete a preocupação com a grandeza que se descola da consciência, onde o poder, uma vez obtido, pode obscurecer os ideais de justiça e igualdade.
Maquiavel, por outro lado, em “O Príncipe”, apresenta uma visão pragmática sobre o poder e a ética. Ele argumenta que, em muitos casos, a eficácia do governo pode exigir ações que são moralmente questionáveis. No entanto, mesmo Maquiavel reconhece que há limites; a busca pelo poder não deve ser desenfreada, pois pode levar à ruína. Isso pode ser interpretado como um aviso contra a perda da consciência moral em favor da grandeza e do poder.
A separação entre a consciência e o poder manifesta-se de várias formas: na desconexão entre os líderes e as necessidades de seu povo, na justificação de meios imorais para fins supostamente nobres, e na transformação da liderança em autocracia. A grandeza, portanto, torna-se perigosa quando ignora a ética e a moralidade, quando os fins são vistos como justificativa para quaisquer meios.
A consciência, neste contexto, deve ser entendida como a capacidade de reconhecer a dignidade e os direitos de todos, a responsabilidade ética e a necessidade de transparência e justiça. A verdadeira grandeza, portanto, é alcançada não apenas através da acumulação de poder, mas pelo exercício deste poder de maneira consciente e responsável.
A discussão sobre a grandeza e o poder é crucial em uma era onde líderes são frequentemente colocados sob um microscópio, tanto pela mídia quanto pela população. A capacidade de manter a consciência ao acumular poder é o que separa os líderes verdadeiramente grandes daqueles que serão lembrados pelos erros cometidos sob a influência de sua própria grandeza. A reflexão sobre essas questões não é apenas acadêmica, mas profundamente prática, pois nos desafia a buscar um equilíbrio entre a ambição de grandeza e a integridade de nossa consciência.

Formado em economia, com pós-graduação em Estratégia pela ADESG. Especialização em filosofia clássica.Trabalha no Poder Legislativo do DF há 32 anos nas áreas de orçamento público e processo legislativo.