O que podemos aprender com los hermanos
por Fausto Freire
No próximo dia 15 de novembro a nossa seleção de futebol enfrentará a Argentina. Os hermanos veem de uma vitória acachapante contra o Equador. O confronto ocorrerá em Riade, na Arábia Saudita, por onde andou recentemente o Presidente Bolsonaro. Mas a grande lição de nossos vizinhos do sul não está no gramado. Ela vem de outro campo: o político.
O cronograma eleitoral argentino difere do nosso. Eles foram às urnas em 2015, enquanto nós comparecemos em 2018. A Argentina vinha de 12 anos de Kirchnerismo. O Brasil havia atravessado 16 anos de PT/MDB. Em ambos casos, os governos deixavam um rastro de destruição da máquina pública, desemprego, estagnação econômica e corrupção. Em 2015 eles deram adeus a Cristina e nós esperamos até 2018 para viramos a página Lula-Dilma-Temer. Tanto eles quanto nós nos livrar das “Presidentas” e vivemos felizes para sempre… Será?
Quando um país cai na espiral da crise econômica e chega ao fundo do poço, não se apresentam soluções milagrosas para sanar incontinenti todas as mazelas. Em geral, o processo de recuperação passa por diversas etapas, que vão desde o caos completo até opções menos dolorosas. A saída do pântano faz o caminho inverso ao percorrido na queda: vai da asfixia à ventilação mecânica; do péssimo ao muito ruim; do muito ruim ao menos calamitoso e assim por diante. Não se sai do inferno para o paraíso, sem se passar pelos sete círculos do purgatório… Essa é a situação do Brasil, da Argentina, da Turquia, da Rússia, do Líbano, entre outros. Talvez, em breve, estejamos incluindo a Inglaterra nesse seleto grupo…
A grande dificuldade é que a expectativa do cidadão comum é sempre que, após o sofrimento infringido pela provação, tudo se recupere num passe de mágica, o que todos sabemos ser impossível, mas é sempre isso que prometem os políticos.
A eleição de Bolsonaro mostrou a maturidade do eleitor brasileiro, que se conformou com algo menos ruim, como opção perante a manutenção do caos completo. Temporariamente, o Brasil está a salvo do redemoinho destrutivo que engolfou a Venezuela. Mas ainda é cedo para cantar vitória.
Os argentinos fizeram, em 2015, a opção por Mauricio Macri, na esperança de debelar a crise sistêmica deixada pela dinastia Kirchner. Apesar de ter tido êxito parcial na negociação da dívida externa, com apoio do FMI, o país não consegui evitar a ruína. Como no Brasil, a origem da crise está na corrupção desenfreada que se retroalimentou com os reflexos da moratória decretada por Cristina Kirchner.
A corrupção argentina tem o mesmo DNA da nossa: a imunidade, garantida pelo foro privilegiado de políticos com mandato e a impunidade estabelecida pela suprema corte, a enviar às calendas os crimes do colarinho branco. Cristina é ré em seis processos por corrupção, corrupção passiva em mais de mil ocasiões e é coautora com outros cem acusados. O juiz Claudio Bonadio, o Sérgio Moro dos Pampas, responsável pela maior parte dos processos contra a ex-presidente, hoje senadora, enviou requerimento ao Senado para a retirada de sua imunidade parlamentar, condição para que ela fosse presa. Mas a tentativa frustrou-se já que o partido Justicialista e seus aliados dominam a casa.
Já o STF tupiniquim prepara, com a sutileza de um elefante numa casa de cristais, o golpe final para garantir impunidade perpétua para nossos criminosos de estimação. A farjuta interpretação da Constituição, alegando que um réu só poderia ser preso após o trânsito em julgado, na verdade, não significa um privilégio para os corruptos. É algo mais astucioso: trata-se de garantir que o corrupto seja refém do sistema judiciário per saecula saeculorum. Este expediente já é usado por policiais corruptos, que ao prenderem o ladrão, o libertam para que continue a roubar, só que o ladrão passa a trabalhar para o agente bandido.
Com os meios tecnológicos disponíveis na atualidade, é praticamente impossível que um crime de corrupção não seja descoberto. A única forma de impedir que o ladrão seja desmascarado é impedindo que a tecnologia seja utilizada. Foi exatamente isso que o Toffoli fez ao proibir que o COAF, hoje desbaratado, pudesse exercer sua função fiscalizadora.
A prisão em segunda instância significa uma perda de mercado para a classe jurídica. Perdem advogados, juízes vendedores de sentença e ministros compassivos, para não chamar de cúmplices. A imposição arbitrária desse status quo não é mais tolerável. O Cidadão de bem não permanecerá passivo perante tamanha afronta.
As postagens boçais do entourage do presidente comparando o STF a um grupo de hienas, prestam desserviço ao bom senso. Prejudicaram as exortações de homens como o General Santos Cruz e o General Villas Boas, que hoje já não está entre nós. Ambos generais ao advertirem a Corte do risco de lançar o país numa guerra social, traduziram o sentimento das Forças Armadas e dos cidadãos de bem. A atitude dos ministros ao reinterpretar o texto constitucional a sua guisa, ou a do mejor postor, como dizem os portenhos, tem potencial de levar o país a um confronto.
Não será com memes, em redes sociais, que venceremos o crime. Precisamos de líderes com postura, para não cairmos no mesmo erro da Argentina.